Em mim não funciona o "politicamente correto"

Eu sou assim, tenho minhas convicções, meus ideais, minhas opiniões e não me tira o sono perceber que muitas vezes o que eu sou e penso não se encaixa naquilo que chama de politicamente correto.
Nos últimos meses tenho sofrido um bocado por conta disso, estava até então engolindo um sapo gigante, apenas para que não me julgassem por pensar diferente da maioria, mas na verdade eu percebi que muita gente pensa como eu, mas não tem coragem de ir contra a maré, tem medo de ser julgado, e com isso acaba sendo e dizendo o que ou outros querem ouvir.
Pois bem, depois dessa introdução, me sinto hoje a vontade em abrir meu coração, sem medo, e quem sabe, para ajudar outras mulheres a sairem do "todo mundo tem que pensar assim".
Quando Isadora completou 1 ano e meio a gente quis ter outro bebe, assim veio a Valentina, de surpresa porque eu nunca fiquei marcando datas, medindo temperatura ou esperando todos os meses o positivo.
Ela veio quando quis, não foi uma gestação fácil do ponto de vista fisico, mas eu queria ter outro bebe, suportei as dores da gravidez, cuidei da Isa até o final em casa, enfim.
A gente queria outro bebe, mas planejavámos para daqui uns 5 anos, a gente não queria agora, queria esperar meu corpo descansar, queria deixar os sentimentos tomarem seus lugares, queria esperar a Isadora estar mais independente, queria esperar a Valentina precisar menos de mim, queria esperar.
Porque?
Porque sim!
Eu não me sinto preparada em nenhum ponto para ser mãe novamente, eu sinto que meu corpo esta cansado, e não falo de cansaço por não dormir, falo da parte da saúde mesmo, meu útero, minhas pernas, minhas costas.
Eu não me sinto preparada para ser mãe emocionalmente.
EU sou o tipo de mãe que se dá mil por cento, que cuida da roupa, da comida, da educação, que se preocupa, que não dorme se tem febre, e isso desgasta, sobrecarrega, e eu estou nessa vida a 3 anos consecutivos.
Dois meses antes de engravidar, eu estava planejando voltar ao mercado de trabalho, tirar minha habilitação, voltar a faculdade, eu preciso voltar a ser eu, a ser a Fernanda, a fazer minhas coisas, a ter um tempo pra mim, a fazer as refeições na hora, a tomar banho demorado, a fazer as unhas toda semana, eu preciso me desconectar desse mundo um pouco!
Mas dai veio a noticia da gravidez, que não foi planejada, que eu não queria, que eu não me sentia preparada e foi então eu eu desabei, sim, no sentido literal!
Eu não quero outro filho agora!!!!
Precisei de um tempo pra pensar, pra organizar as idéias, pra aceitar, pra entender...
Dai você pode pensar: Ué se não queria porque não se previniu?
De certa forma, você que pensou assim tem razão, apesar de eu ter tomado a pilula do dia seguinte.
Comecei a me culpar por não ter me previnido, comecei a me culpar por fazer a Isadora passar novamente por isso, em apenas 3 anos ela passou de filha única a irmã de dois, e isso dói nela, eu sei.
Me culpar porque a Valentina tão pequena vai ter que me dividir, vai ter que aprender a conviver com outro bebe, ainda sendo um bebe.
Fora tudo isso, comecei a receber alguns comentários um tanto quanto ácidos, do tipo: Já? Nossa vcs não perdem tempo!
E eu apenas sorria e acenava, porque né, se eu dissesse que eu não queria, que estava sofrendo, estaria sendo politicamente incorreta, e receberia mais reprovação do que já estava recebedo por estar gravida novamente em tão pouco tempo.
Ok! esse é um ponto.
Comecei a pensar na gravidez, no bebe, tentando me conectar a isso para tentar esquecer todo o resto, eu me então comecei a pensar que seria legal ter outra menina, eu sempre quis ter tres meninas, amo ser mãe de menina e aprendi a ser mãe com menina, dai melhorou um pouco, eu ficava pensando quando elas estivessem todas grandes, iamos juntas ao shopping, seriamos amigas.
Foi então que o ultrassom me deu um banho de água gelada me dizendo que eu teria um menino, como assim?
Um menino?
Eu não queria ser mãe, muito menos mãe de menino, já que é pra eu ter outro bebe agora, que fosse outra menina!
E foi então que o bicho pegou e a aceitação que estava começando a acontecer, desabou, eu não quero, não quero, não quero!!!!!!!!
E novamente o comportamento politicamente correto teria que acontecer, e quando as pessoas diziam: Que legal! até que enfim um menino! eu sorria, mas com vontad de dar uma voadora na pessoa, juro!
Porque que raios eu TENHO que ter um menino?
E eu então calada sofria, me fez tão mal que eu tive um surto, sim um surto!
De cansaço, de raiva, de decepção, de tantos sapos engolidos e tive uma crise de choro, de dias seguidos, tive desmaios, minha alma estava em pedaços, eu agora teria também que lidar com o fato de que teria um menino, e isso pra mim estava sendo demais.
Pausa
Querida leitora, eu posso ver daqui sua cara de espanto e de reprovação por isso que escrevi!!!!
Despausa
Foi quando comecei a ser sincera comigo mesma, e com as pessoas, e eu dizia a cada comentário que eu não queria um menino, que eu não sei ser mãe de menino, e toda a lenga lenga...
Foi mais dificil ainda, pois além da reprovação por eu ter engravidado tão cedo eu esou lidando com a reprovação das pessoas porque eu simplesmente queria outra menina.
O que eu já ouvi de "conselhos"não esta escrito, coisas do tipo:
- Não fala isso menina, Deus pode te castigar!
- O importante é vir com saúde!
- Mas toda mulher precisa passar pelas duas experiências!
-Seu filho vai sentir que esta sendo rejeitado!
E por ai vai....
A cada uma eu respondo:
-Não, Deus não vai me castigar simplesmente porque eu tenho uma preferencia, se assim fosse, ele iria castigar o pecador por ter escolhido o caminho errado!
-Será meu filho, com saúde ou não, e claro que no que depender de mim, ele virá com saúde.
- QUem disse que toda mulher precisa ter meninos e meninas?
- Nunca que meu filho foi rejeitado, eu apenas queria outra menina, mas ele continuou sendo amado mesmo depois de eu ter descoberto que não era menina.
Sendo assim, é assim que estou!
Vivendo um dia de cada vez, orando, sentindo todas as dificuldades de se ter duas crianças e uma barriga pra cuidar, e aceitando!
Se você é meu amigo pessoal, por favor, não venha me julgar ok?
Se você de alguma forma me reprova, sinceramente, guarde pra você!
Eu sou assim, sincera comigo mesma, eu só sei viver bem dessa forma.
Tenho certeza que quando eu ver o Isaac, quando sentir o cheirinho, ouvir o primeiro chorinho, meu coração vai transbordar de amor e cuidado, mas, até lá, eu só quero viver em paz, ter o direito de me sentir do jeito que eu quiser!
Ah! esqueci, já me deram o conselho de que os meninos são mais carinhosos, mais apegados a mãe e toda essa história de blábláblá whiskas sachê.....
E antes de terminar esse desabafo preciso agradecer a minha amiga querida  Dina Ulbrich, pois mesmo sem saber de tudo isso que eu estava passando calada, me mandou um link que me fez ter coragem de expor meus medos e frustrações e me sentir mais leve, obrigada amiga, vc me ajudou muito!!!!
E se você esta passando por isso também, sugiro que leia essa matéria da Pais e Filhos MeninoXMenina.
Um beijo no coração e que venham os comentários anônimos me dar pauladas muahhh